O Projecto da Câmara Municipal de Albufeira desenvolvido pela Significado na Revista Aprender

No último número da revista “Aprender” é destacado o Plano de Formação promovido pela Significado na Câmara Municipal de Albufeira. É igualmente apresentado um artigo da Dra. Conceição Canavilhas sobre a Formação Acção na Administração Local, como nova metodologia formativa.

Pode aceder à Revista Aprender em: http://www.direitodeaprender.com.pt/revista.htm

Artigo:

FORMAÇÃO-ACÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO LOCAL
Uma metodologia centrada na investigação e na reflexão
Conceição Canavilhas
SIGNIFICADO, Novembro de 2004

Conceição Canavilhas, Mestre em Ciências da Educação, é actualmente Directora Executiva da Significado, responsável pelo desenvolvimento de Projectos de Formação-Acção em Autarquias.

O Despacho Conjunto nº 694/2003, de de 7 de Julho consigna o recurso à metodologia da Formação- Acção na Administração Local, no âmbito do Programa Foral, abrindo as portas à implementação de projectos formativos nas autarquias centrados na investigação e na reflexão.

Os objectivos considerados no Despacho realçam um conjunto de aspectos de que destacamos:
• o desenvolvimento das competências das pessoas e das organizações
• a melhoria dos desempenhos profissionais
• a indução de processos de mudança organizacional
• uma maior focalização ao nível resolução de problemas organizacionais concretos, bem como para a identificação de estratégias para a sua resolução
• o desenvolvimento dos ambientes de trabalho colaborativos e aprendentes
Para a concretização destes objectivos é importante que estejam assegurados um conjunto de requisitos de dos quais salientamos:
• Um Projecto de Formação-Acção deve corresponder a uma efectiva necessidade da organização e contribuir para a sua melhoria contínua
• Um projecto de Formação-Acção tem de ser desejado pelos Órgãos de Topo da Organização (o Executivo da Câmara Municipal) e contar com o seu empenhamento.
• As metodologias formativas deverão centrar-se numa linha reflexiva e investigativa
• O dispositivo de formação tem de garantir uma efectiva transferência de conhecimento para os Recursos Humanos envolvidos no Projecto de Formação-Acção
• Devem ser assegurados dispositivos de regulação e controlo permanente da formação ao longo das diferentes fases do projecto (Levantamento e Diagnóstico de Problemas, Elaboração do Plano de Acção, Implementação e Acompanhamento do Plano de Acção, Apresentação de Resultados e Conclusões)
• A Equipa Pedagógica (Formador, Formador-Consultor e Coordenador Pedagógico) tem de ter competências e experiência comprovada em projectos similares dentro da área de formação e consultoria a que respeita.

Iremos centrar-nos neste artigo nos contributos pedagógicos de alguns autores que podem ajudar à compreensão deste tipo de formação e que poderão auxiliar a atingir os objectivos preconizados.
A Formação-Acção, tal como a preconizamos, enquadra-se numa linha construtivista, na acepção que lhe é dada por Nóvoa (1991) que nela insere contributos dos modelos personalista, investigativo, contratual e interactivo-reflexivo.

Nos projectos de Formação-Acção o processo formativo deverá centrar-se no desenvolvimento por parte do formando da capacidade de observação e de análise do real, no aprender a questionar esse real e no aprender a questionar-se a si próprio enquanto parte desse real. Há, por isso, uma ênfase na investigação enquanto estratégia de formação. Esta é a perspectiva de Ferry (1983) ao enunciar o modelo teórico centrado sobre a análise. Neste modelo o formando é considerado como sujeito da formação em oposição a outros modelos que o colocam como objecto da formação.

Consideramos também indispensável que nos projectos de Formação-Acção se centre o processo formativo na prática reflexiva, considerando-se os formandos como agentes da sua própria formação e com um papel importante a desempenhar na mudança dos contextos organizacionais em que se inserem. Esta é a perspectiva de Zeichner (1983) ao definir o paradigma Investigativo (Inquiry-oriented teacher education).

A Formação-Acção é por inerência um processo formativo “em situação”, ligado à resolução de problemas reais do contexto de trabalho, acompanhado em permanência por uma actividade reflexiva e teórica do grupo de formandos, sustentada por uma ajuda externa. Esta é a perspectiva enunciada por Demailly (1992), que igualmente contextualiza a formação numa linha reflexiva – forma interactiva-reflexiva. Neste processo a capacidade de resolução de problemas é assumida como uma fabricação colectiva de novos saberes, postos em prática paralelamente ao processo de formação e dissociam-se, quer no espaço quer no tempo, os momentos de acção e os momentos de constituição de novas competências.

Efectivamente, no decurso de um projecto de Formação-Acção as estratégias formativas conducentes à mudança das práticas serão mais eficazes se forem do tipo “interactivo-reflexivo” por suscitarem menor resistência perante a formação, permitirem “gozar o prazer da fabricação autónoma das respostas aos problemas encontrados”, por abordarem a prática de uma forma global e por permitirem “inventar novos saberes profissionais”, indispensáveis, hoje em dia, face à inexistência de soluções pré-elaboradas que respondam adequadamente aos problemas das organizações (Demailly, op. cit, 1992).

A Formação-Acção assim enquadrada desenvolve-se no triplo movimento preconizado por Schon (1987): conhecimento na acção, reflexão na acção e reflexão sobre a acção e sobre a reflexão na acção e o formador assume nesta formação o papel do “coach”. O Formador-Consultor é, nesta óptica, um facilitador da aprendizagem, cujas estratégias incluem demonstrações acompanhadas de comentários sobre os processos seguidos, crítica, re-apreciação, verbalização do pensamento como expressão dos processos de reflexão na acção e diálogo com a situação, envolvimento do formando nesse mesmo diálogo, lançamento de situações desafiantes, encorajamento, instruções e sugestões.

DEMAILLY, Lise Chantraine (1992). “Modelos de formação contínua e estratégias de mudança”. In Os Professores e a sua Formação [António Nóvoa, coord.]. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Instituto de Inovação Educacional.
FERRY, Gilles (1983). “Le traject de la formation: les enseignants entre la teorie et la pratique”. Sciences de l’Éducation. Paris: Dunod.
NÓVOA, António. (1991). “Concepções e práticas de formação contínua de professores”, in “Formação Contínua de Professores: Realidades e Perspectivas”, Universidade de Aveiro.
SCHON, Donald (1987). Educating the Reflective Practitioner. Toward a New Design for Teaching and Learning in the Professions. San Francisco: Jossey Bass
ZEICHNER, Kenneth M. (1983). “Alternative Paradigms of Teacher Education”. Journal of Teacher Education, 34 (3), May-June, pp. 3-9.